sábado, 8 de outubro de 2011

Árvores com olhos de Mulukurunda





por Edilson Freire Maciel



Natal amanheceu poluída, com olhos assustadores, de expressão histérica, pendurados em algumas árvores nos pontos estratégicos da cidade. Essa simbologia tem como objetivo a proteção das árvores, querendo significar uma admoestação: Estou de olho! Parece-nos um tanto aborígine quanto a sua forma de comunicação. Faz-nos relembrar Mundo Cão, o famoso documentário italiano dos anos 60, em que os primitivos da Papua Nova Guiné construíam com arbustos algo semelhante a um avião, no intuito de atraí-lo. Assim funcionam os olhos maus de mulukurunda, que estão pendurados em nossas árvores em relação às novas tecnologias. Em Paris, uma das capitais mais arborizadas do mundo, diferentemente daqui, não há simbologias poluidoras penduradas nas árvores, mas sim chips que as monitoram, socorrendo-as em caso de acidente ou doença, protegendo-as quanto a possíveis agressões.
Nos países desenvolvidos, a lógica do pragmatismo tecnológico e da política propositiva é uma realidade, porque assim o é, porque o povo quer. Diferentemente dos paises periféricos em que, por falta de solução dos problemas, apela-se para a verborragia, o sofisma e a metáfora. É o discurso dos bacharéis, das barrigas jornalísticas, transferido para a oratória já obliterada, cansada de tanto – blá – blá – blá, ainda que cause esperança aos incautos.
Cada vez mais aumenta os paradoxos, as dissociações nos países alijados do centro de poder, ao ponto de já nos conceituarem de Belíndia, uma fusão de Bélgica e Índia, tamanho o contraste social existente em nosso país. Esse contraste social nos leva aos graves erros de julgamento, de atitudes descentradas, desfocadas da realidade, em surto socioesquisofrênico. Apesar de vivermos em pleno mundo globalizado, das intercessões econômicas, financeiras e tecnológicas, é incongruente, inócuo e ridículo prescindir da tecnologia dos olhos eletrônicos para substituí-la por olhos de mulukurunda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário