quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Documentário sobre a Ocupação na Câmara

Primavera sem borboleta: O teatro do oprimido é o título do documentário em produção sobre os movimentos sociais em Natal que pedem o impeachment da prefeita Micarla de Sousa.

Enquanto o documentário segue em produção, é possível ver um pouco dos momentos marcantes da luta da população para que os seus anseios sejam materializados.

Trata-se de material inédito, registrado in loco durante os 11 dias de ocupação da Câmara Municipal do Natal.




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sábado, 8 de outubro de 2011

Árvores com olhos de Mulukurunda





por Edilson Freire Maciel



Natal amanheceu poluída, com olhos assustadores, de expressão histérica, pendurados em algumas árvores nos pontos estratégicos da cidade. Essa simbologia tem como objetivo a proteção das árvores, querendo significar uma admoestação: Estou de olho! Parece-nos um tanto aborígine quanto a sua forma de comunicação. Faz-nos relembrar Mundo Cão, o famoso documentário italiano dos anos 60, em que os primitivos da Papua Nova Guiné construíam com arbustos algo semelhante a um avião, no intuito de atraí-lo. Assim funcionam os olhos maus de mulukurunda, que estão pendurados em nossas árvores em relação às novas tecnologias. Em Paris, uma das capitais mais arborizadas do mundo, diferentemente daqui, não há simbologias poluidoras penduradas nas árvores, mas sim chips que as monitoram, socorrendo-as em caso de acidente ou doença, protegendo-as quanto a possíveis agressões.
Nos países desenvolvidos, a lógica do pragmatismo tecnológico e da política propositiva é uma realidade, porque assim o é, porque o povo quer. Diferentemente dos paises periféricos em que, por falta de solução dos problemas, apela-se para a verborragia, o sofisma e a metáfora. É o discurso dos bacharéis, das barrigas jornalísticas, transferido para a oratória já obliterada, cansada de tanto – blá – blá – blá, ainda que cause esperança aos incautos.
Cada vez mais aumenta os paradoxos, as dissociações nos países alijados do centro de poder, ao ponto de já nos conceituarem de Belíndia, uma fusão de Bélgica e Índia, tamanho o contraste social existente em nosso país. Esse contraste social nos leva aos graves erros de julgamento, de atitudes descentradas, desfocadas da realidade, em surto socioesquisofrênico. Apesar de vivermos em pleno mundo globalizado, das intercessões econômicas, financeiras e tecnológicas, é incongruente, inócuo e ridículo prescindir da tecnologia dos olhos eletrônicos para substituí-la por olhos de mulukurunda.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O Reino de Elefantina




por Edilson Freire Maciel


O reino de elefantina fica assim, num lugar em que o vento faz a curva ou, como dizem os mais cáusticos, onde o capiroto perdeu as botas. Lá, quem governa são os cornacas. Eles conduzem o paquidérmico reino com uma vareta que está sempre em punho, orientando o seu lento caminhar.

No inusitado reino, a vida dos elefantinos está sujeita a uma lei que se sobrepõe à vida e à morte. Todos devem obedecê-la em fila indiana, unidos por trombas e rabos. Os cornacas são de uma região feudal do reino, acostumados a guiar elefantinos de tromba a rabo, através de muito circo e pouco feno, levando-os ao delírio ufanista de pertencerem à cidade cultural de Elefantolândia.

Os elefantinos do leste rebelaram-se, torceram o rabo, bramiram, agitaram-se na defesa de condições dignas de trabalho e mais ração. Os cornacas, devido à tradição feudal, não tinham trato político com a diversidade paquidérmica, tratando-a com métodos antigos de domesticação. Achavam que a vareta era suficiente para dissuadir a insatisfação; ou que a frieza pétrea de uma lei fosse convencer toda uma geração de injustiçados.

Elefantina está em crise, carece de um gabinete político suprapartidário para dirimi-la, criar e promover recursos para o desenvolvimento social, longe da influência política da tecnocracia e dos burocratas. Acabar com as pensões inconstitucionais dos ex-cornacas, denunciar e acionar os devedores do banco de Elefantina e apurar as despesas mamuteanas dos órgãos públicos.

O reino de elefantina é muito curioso, diz cumprir a máxima do general Pompeu. Vejamos em que circunstância se tornou célebre a frase do general. Naquela época, era comum o exército vencedor ficar com o botim da guerra disputado entre a soldadesca através do duelo. Para impedir a desordem na tropa, Pompeu decretou que todo soldado que matasse outro, em disputa por botim, seria condenado à morte.
Certa vez, seu ajudante de ordem o procurou afirmando que um soldado tinha sido morto por motivo de despojos de guerra. O general foi claro:

– A lei!
O ajudante de ordem replicou:

– O assassino é seu filho.

Respondeu o general:

– Dura lex, sed lex! (a lei é dura, mas é lei!).

Os cornacas têm reserva moral em relação à essência dessa máxima universal? Ao desprezar as necessidades básicas dos elefantinos para investir no supérfluo, estão mais para Heliogábulo do que para Pompeu.Os cornacas alegam não poder atender às reivindicações trabalhistas de uma minoria de elefantinos, enquanto existe uma manada  de mais pobres; são três milhões, cento e sessenta e oito mil,  cento e trinta e três, para serem atendidos. Infinita a esquizofrenia do poder ao fazer distinção entre miseráveis. Todos são vítimas da exploração e opressão do Estado mínimo. É desejo dos elefantinos que os cornacas, além de parecerem, sejam honestos e populares.