quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um ato de amor a Natal



No dia 15 de fevereiro de 2012, estudantes e trabalhadores ocuparam as vias que circundam a Câmara dos Vereadores de Natal, com a intenção de fazer um protesto lúdico no horário em que normalmente as atividades da casa voltariam a funcionar, às 16h.

Mas, a solenidade teve o seu horário alterado para a parte da manhã. Ônibus carregados vindos de currais e cargos comissionados presenciaram uma festa que mereceu comparações com "O Bem Amado". Aliás, esse cenário é muito bem reproduzido neste texto.

Os manifestantes cobravam as medidas cabíveis aos muitos atos de improbidade administrativa detectados na CEI dos Contratos e o julgamento célere dos envolvidos em esquemas de corrupção, como as operações Hygia e Impacto.

Tudo ocorreu em tranquilidade, até que, à tarde, o bloco carnavalesco sofreu dura repressão policial. O vídeo flagra do início ao fim da presença de policiais militares e guardas municipais, que se viram incapazes de seguir a decisão inicial de levar preso um dos membros da manifestação, sob alegação de que o mesmo estaria agindo de "maneira suspeita".



Enquanto os militantes se utilizaram de recursos pacíficos para evitar qualquer tipo de confronto, a PM os tratou de maneira desrespeitosa e preconceituosa, munida de armas de fogo e de balas de borracha, além dos muito usados spray de pimenta e cacetetes.

Eram cerca de 15 viaturas da Polícia Militar e um número, no mínimo, quatro vezes maior em meio a estudantes, trabalhadores, militantes com sede e com fome de ética, de justiça, de mudança, de lógica, de igualdade, de democracia...

E recorrendo à resistência pacífica, os manifestantes aos poucos sentaram-se, como nos tempos em que bravamente ocuparam por 11 dias a Câmara Municipal do Natal, em junho do ano passado. Em cortejo, lembraram as muitas denúncias até chegar ao Beco da Lama, em mais um protesto simbólico.

Isso só demonstra que o movimento não se calou, tampouco se desfez. Os movimentos sociais, ao contrário do que alguns imaginam, estão se unindo e se fortalecendo cada vez mais.




fotos por Lenilton Lima

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Seremos sempre rebeldes, sempre!

Texto por Gregório Bezerra


Venho através desta nota de esclarecimento relatar alguns acontecimentos que presenciei no dia 26.01.12, envolvendo membros da Administração Pública direta, inclusive a prefeita Micarla de Sousa, acontecimentos esses que nos envergonham e provoca em todos nós, cidadãos natalenses, extrema indignação. Queria muito ser breve, mas pena que a relevância dos fatos não me permite ser conciso, pois se fossem receber a dimensão devida não caberia em um livro, sequer em alguns parágrafos. 

Fiquei sabendo através dos moradores da comunidade do Leningrado, na qual participo cotidianamente de atividades em defesa dos direitos humanos em atuação pelo Programa Lições de Cidadania da UFRN, que na quinta feira, dia 26.01.12, a prefeita iria ao terminal do Guarapes, zona oeste de Natal, inaugurar um circular da nova linha de ônibus 599, que desde a segunda-feira da mesma semana faz a ligação entre os bairros Guarapes e Planalto, atendendo especialmente as comunidades do Leningrado e Santa Clara. 

Então, quando chegamos ao Local por volta das 9:00hs, eu e outros 5 estudantes do Programa, nos deparamos com alguns populares, líderes comunitários e sindicalistas que aguardavam ansiosos a chegada da Prefeita. O tempo correu e em vez da Prefeita, chega a sua equipe, que contava dentre outros, com os seus assessores de gabinete Luiz Antônio (secretário adjunto do Gabinete Civil) e Patrícia Castro, e o secretário adjunto da Semob, Jefferson Pedroza (alguns desses já se encontravam no local desde a nossa chegada). Parecia uma espécie de fiscalização para a preparação de uma emocionante cena de teatro, em que a prefeita daria um grande presente aos moradores daquela região, pois assim foi divulgado pelas tradicionais mídias da nossa cidade: ”Comunidade do Leningrado ganha linha circular”.

Entretanto, sabemos que direitos não são favores ou sequer caridade. O transporte público, assim como a educação, saúde, moradia, segurança, cultura e lazer são direitos humanos fundamentais: essenciais para que qualquer ser humano possa ter uma vida digna. Justamente por isso, estão elencados com tamanha relevância na Lei suprema da Nação, a nossa louvável Constituição Federal de 1988. Com essa consciência crítica, alguns moradores da comunidade do Leningrado juntamente com os estudantes do Lições de Cidadania, preparam cartazes para manifestarem parte da sua indignação frente aos demais descasos da Administração Pública natalense, fazendo jus aos mais de 90% de índice de reprovação da gestão Micarla de Sousa: “Prefeita, estamos esperando há mais de 7 anos saúde e educação no Leningrado!”, “Precisamos de segurança no Leningrado”, “Não basta um circular, queremos dignidade”, “Transporte não é favor, é direito!”.

Ao percebem a movimentação de cartazes e sindicalistas, a equipe da prefeita compreendeu que a grande cena não iria ser como planejaram e fantasiaram, pois ali havia intrusos, estranhos, outros protagonistas, o POVO: gente indignada cheia de insatisfação e questionamentos: “por que só agora, faltando menos de um ano para o fim do mandato chegou esse transporte?” “Será que é porque é ano de eleição?” “Será que é porque ela acha que vai comprar a gente com isso?” “Ou será que é porque ela deve inaugurar todas as linhas de ônibus?”, “Coincidência?”. Tenho certeza que não.

Colocando os pés no chão ou nos buracos, que não são poucos e, percebendo que a prefeita não iria levar o mérito da boa samaritana diante daquela situação de “extremo risco”, pois ali estava o povo e com cartazes nas mãos, vale salientar, a sua equipe preferiu mudar o local da recepção de última hora, naquele instante, sem dar sequer satisfação àqueles que se dizem seus representados, para não expor a prefeita a esse grande constrangimento. Desse modo, entramos no circular que iria ser inaugurado, que a princípio só iria levar ao novo lugar de recepção da prefeita a equipe Micarla, e fomos até a Rua Maranta próximo ao conjunto Leningrado. 

Ao chegarmos ao novo local, era visível o incômodo do Secretário Luiz Antônio com a presença dos intrusos, nós, povo. Fomos ao seu encontro para saber: por que a nossa presença estava gerando tamanho desespero e desconforto naquele agente político? Então ele disse: “Porque esse não é objetivo da nossa recepção, a prefeita não pode se expor dessa forma, isso é baderna, não é indo para as ruas que vocês conseguem alguma coisa, vocês têm é que marcar uma reunião pelas vias institucionais”. Então quer dizer o povo pode se expor ao abandono e ao esquecimento? Quer dizer que agora o povo tem que agendar dia e hora com aqueles que se dizem “seus representantes” para protestar contra eles? Quer dizer que o cidadão precisa de autorização para ir às ruas reivindicar os seus direitos? Óbvio que não! Infeliz fala do assessor, pois dissemos a ele que acima da autoridade que nossos gestores representam, existe a Constituição Federal, que nos garante o direito de ir às ruas, protestar e manifestar a nossa opinião, pois é assim que a luta histórica nos ensinou a efetivar e concretizar direitos.

Assim, chegou à grande hora, a hora em que chegou a prefeita. Micarla não chegou sozinha, chegou com muitos seguranças em trajes civis e alguns carros da prefeitura com pessoas que pareciam ser contratadas para puxar aplausos como naqueles filmes de comédia: “viva a prefeita. Viva!” Então entrou no ônibus e fez aquilo que todo político demagogo faz: “Blá, blá, blá... Blá, blá, blá...” e assim por diante. Contudo, “a volta” foi curta, durou pouquíssimos minutos o percurso de encenação, mas deu pra garantir boas fotos para as mídias tradicionais. 

Quando o ônibus parou, descemos antes da prefeita e abrimos os cartazes para recepcioná-la. Em seguida a perguntei o porquê de tamanho descaso com a comunidade do Leningrado. E a Prefeita Micarla de Sousa respondeu com outra pergunta: “E vocês moram lá?”. Então quer dizer que por não morar no lugar, não posso como cidadão lutar pela minha cidade, por dias melhores pelo povo do qual eu faço parte, pelo outro que reconheço como igual que somos?! Dessa forma, não preciso mais me prolongar, pois com atitude de tamanha falta de respeito pelo outros é quase impossível dialogar, pequenez de espírito e nem ao próprio respeito se dá. Daí em diante foram só aplausos honestos e sinceros para “a prefeita do povo” e nós os “manifestantes desintelectualizados, despreparados e desculturados, continuamos a baderna.”

Porém, acreditamos que baderna e desordem não são estudantes, trabalhadores e trabalhadoras segurando cartazes, baderna é o caos que a nossa cidade vive hoje, onde as nossas crianças e jovens enfrentam grandes dificuldades para ir e se manter nas escolas, visto que não existem vagas, nem professores(as) suficientes, e nem condições de trabalho adequadas. Muitos alunos freqüentam as escolas apenas para se alimentarem e mesmo assim, muitas vezes se frustram com a falta de merenda; o transporte “púbico” é uma vergonha, somos obrigados (as) a utilizar ônibus lotados, em péssimo estado, que demoram a passar, em paradas sem o mínimo de segurança, com o preço da passagem caríssimo e abusivo, acima das tarifas nacionais de transporte público; quando ficamos doentes, temos dificuldade em encontrar postos de saúde que funcionem de maneira eficiente, com remédios, médicos (as) e enfermeiros (as) em número que garanta um bom atendimento; nossas ruas, embora de diferentes localidades, convergem em pontos comuns: lixo por todos os lados e buracos por todas as partes. 

Isso sim é baderna, isso sim é violência, isso sim é o que não queremos na próxima eleição. Fora Micarla, fora aquele que não respeita o outro, fora aquele que não trata o povo com a seriedade e a responsabilidade devida. Diante de todo esse contexto de opressão, voltarei a dizer que nós, membros do Programa Lições de Cidadania, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores, não hesitaremos em nos encher de indignação e continuar lutando por justiça e igualdade social, pois se para ser bem visto pelos olhos dos retrógrados e conservadores for preciso nos resignar diante das injustiças, das violações de direitos humanos que nós, “do povo”, sofremos, não tenham dúvidas de que SEREMOS SEMPRE REBELDES, e teremos orgulho disso, pois segundo o grande lutador e educador popular Paulo Freire: não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos”;

Encharcado de realidade e justa raiva,

Gregório Bezerra Silva
Membro do Programa em defesa dos direitos humanos Lições de Cidadania